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quarta-feira, fevereiro 29, 2012

ABISMO



Abismo


Indignação e Intolerância juntaram-se empregando ferramentas da má vontade e da mesquinhez humana para cavarem um fosso separando Benquerença e Superego.

Esse tenebroso processo foi iniciado há algum tempo sempre revelando um pouquinho aqui e ali, a treva. Dava para divisar o que vinha acontecendo, pois a cada dia, um sinal da degradação se tornava perceptível:

Um ciúme, descontrole, mediocridade, escuridão, incúria, indiferença, que machucavam e atormentavam.

Susceptibilidade ferida tratou de afastar a sabedoria de Superego pondo no lugar desconfiança, que o impedia de atinar que Benquerença não almejava nada mais do que servir. De graça.

Teimava assim em acenar com votos de boas-vindas à soberba e má fé que chegariam trazendo desconsolo e ingratidão e trataram de minar vestígios de prudência e verdade, e implantar a solidão.

Generosidade tentou acalmar ânimos, mas grosseria rechaçou com veemência essa tentativa de armistício preferindo permanecer no fel.

E radicalizou, impondo barreiras, obscurecendo cérebros. Com razão turva pela desconfiança, debalde foram os esforços de sensatez com uma profusão de atos amigos; Superego permaneceu imutável no seu trono de arrogância.

Enquanto isso bom senso aconselhava insistentemente Benquerença que resolveu acenar com um
milagre, mas Superego preferiu deixar como está, tudo fazendo para impedir o mundo de girar, mas não logrou êxito porque Superego não é o dono do mundo...

Ponderação foi excluída daquele meio, razão passou a ver maus presságios por todos os lados, evidentes sinais de deterioração e de evasão da ternura. Foi a partir daí que Benquerença constatou a verdade contida na frase de Wagner Borges –
sem amor tudo fica muito pobre. Paciente, benignidade ensaiou uma nova fórmula para, unindo as fragilidades animar boa fé e garantir a paz, porém foi mais uma vez rechaçada, ignorada.

E a vala foi cavada.

Muito profunda.


Triunfou o mal.


Consumada a ruptura, ficou de um lado, Superego destilando rancor, mas satisfeito, agarrado à sua obra que corria grande risco de ser roubada ou modificada, há muito este temor lhe corroia as vísceras, medonho; afinal Superego nunca foi, de fato, amigo d’alma de Benquerença.

Do outro lado, Benquerença, tropeçando na perplexidade, sonha em recompor almas desvairadas pela mágoa. No meio, profundo fosso onde medra fel, ressentimento, destempero e torpeza, geradores de ensurdecedor silêncio.

Permanece íntegra, boa vontade propondo contornar esse fosso, ou melhor, sugerindo que Benquerença e Superego deixem crescer asas para alçarem voo em direção do outro e, libertos do desvario, dispostos a arrostar medos, apoiados pela confiança, sorvendo o mel do perdão sigam o mesmo destino, a luz. Benquerença, ciosa da sua independência, não tem talento nem argumento para conquistar, mas foi cativada.

E Antoine de Saint-Exupéry andou afirmando:
“somos responsáveis por aquilo que cativamos”!

Pobre Exupéry...



Eglê S. Machado


Salvador, 29/02/2012


***

1 comentários:

TÂNIA SUZART ARTS disse...

Com tanta coisa ruim junto e misturado, certamente não teria lugar para que o amor se fizesse presença.
Um grande abraço, saudades!
Tânia Suzart